Angelina Wittmann lança obra sobre o enxaimel

 

 

 

 

A arquiteta Angelina Wittmann lança no dia 31 de janeiro, às 19h30, no Centro Cultural 25 de Julho, o livro Fachwerk – A Técnica Construtiva Enxaimel. O secretário municipal de Cultura e Relações Institucionais, Rodrigo Ramos, fez a apresentação da obra desta escritora que, desde a década de 1990, busca respostas para questões relacionadas a essa técnica, quando percebeu que na escala regional, no Vale do Itajaí, existiam “respostas e conceitos” prontos, entre os quais alguns se contradiziam entre si, outros não apresentavam sentido e consistência dentro da pesquisa superficial desenvolvida em diferentes momentos.

Como arquiteta, pesquisadora e professora, Angelina acompanhou parte do trabalho pioneiro desenvolvido pelo colega de profissão Vilmar Vidor na região e no Sul do Brasil – muitas vezes, como integrante da equipe. “Presenciamos debates calorosos sobre o tema, sua importância, ou não, dentro de grupos de pesquisadores, acadêmicos”, diz ela. “Também percebemos que surgiam especialistas da técnica construtiva regional, cujo conteúdo e prática eram superficiais diante da técnica usada não somente no Sul do Brasil, mas em boa parte da Europa, Estados Unidos e também no Oriente.”

O desejo de escrever sobre tema, elucidando parte destas perguntas só aumentou quase como uma necessidade e compromisso. “Quando ingressei na academia como professora, senti a necessidade de organizar este assunto e compartilhar com aqueles que tinham estes mesmos questionamentos, não somente no momento presente, mas também, contando com àqueles que ainda terão sua sinapse pessoal com o tema, despertado no seu momento presente”.

A busca permanente para compreender mais sobre a técnica construtiva, levou a escritora até a Alemanha, origem do enxaimel trazido para o Vale do Itajaí e para o Brasil. No país europeu, teve a oportunidade, materializada pelo editor da revista alemã Weltruf – Wolfgang Betz, de encontrar arquitetos e pesquisadores do tema, como Holger Göttler e Dr. Konrad Bedal, além de freqüentar cenários formados por conjuntos originais de casas enxaimel, construídas em períodos históricos. “Nesse momento percebi segmentos materiais que faltavam para compreender melhor, sob a ótica macro, dentro da linha do tempo histórica e não somente em segmentos, como percebíamos muitos fazendo – na região do Vale do Itajaí e no Brasil.”

 

 

Rural e urbano

Na Alemanha, Angelina percebeu que o material apresentado sobre a técnica construtiva enxaimel tem seu início ligado aos primórdios da civilização ocidental. “Ao estudarmos as tipologias das casas enxaimel, não somente nas regiões que mais receberam este tipo de técnica no Brasil, mas dentro da região do Vale do Itajaí, de maneira inédita, conseguimos classificar as casas sob o aspecto técnico, volumétrico, regional e dos períodos históricos, embora estes eram muito pequenos, mas percebidos. Conseguimos delinear a casa rural e a casa urbana e percebemos que cada uma destas tipologias seguiu sua própria história e adotou suas próprias características ao longo dos períodos históricos.”

A pesquisa induziu a observar o processo evolutivo da casa construída com estrutura de madeira desde os primórdios, na Europa, e também, dentro de um recorte de tempo mais recente, no Vale do Itajaí, podendo ter sido em qualquer outro lugar, onde foi construída a casa enxaimel. O resultado final da casa está relacionado à maneira do homem em se apropriar do espaço, de fazer uso dos materiais naturais retirados do entorno, da tecnologia adotada, do tipo e aperfeiçoamento da mão de obra usada, da cultura e das atividades das pessoas que formam a sociedade residente que constrói e faz uso do espaço da casa, do recorte de tempo histórico – da casa enxaimel.

Esta diversificação a partir das variantes encontradas é responsável pelas diferentes formas e tipologias a partir das muitas opções para construir a casa enxaimel, em qualquer região do planeta, da Europa, da Alemanha, do Brasil – e em suas regiões, como Rio Grande do Sul, Espírito Santo e Santa Catarina. “Este estudo e pesquisa, sob o aspecto histórico e antropológico pode auxiliar no entendimento e nos permitiu delinear o processo do Fachwerk – a Técnica Construtiva Enxaimel e de suas muitas e diferentes etapas”, explica a escritora.

“Após este trabalho e uma pesquisa de mais de 25 anos, reforçamos que enxaimel não é um estilo, não é limitado dentro de um conceito engessado dentro de um recorte de tempo somente, não é ripa colada em um parede de alvenaria, não é tecnologia repassada pelos indígenas que viviam no Brasil quando chegaram os pioneiros, não foi construído e usado pelos colonos somente, não é coisa velha, não é passado, não é coisa pobre, não é só aquela edificação que tem tijolos à vista.”

A casa com a estrutura enxaimel é um dos muitos modelos resultantes de um processo que teve início durante a primeira grande revolução do homem, quando este deixou de ser coletor e caçador e se fixou no solo, tornando-se agricultor a pastor. “Homem que domou, segundo Munford, a si mesmo e depois o meio insalubre que tinha que tirar a sua sobrevivência e construir a sua casa primária com materiais tirados deste meio, o embrião da casa de madeira encaixada, com a presença dos primeiros encaixes.”

O lançamento do livro Fachwerk – A Técnica Construtiva Enxaimel
Autora: Angelina Wittmann
Local: C.C. 25 de Julho de Blumenau
Data: 31 de janeiro
Horário: 19h30

O que é Enxaimel

É uma estrutura de madeira independente das paredes, com toda complexidade da distribuição de cargas que isto significa e só conseguida nas casas de alvenaria após os experimentos na Igreja de Santa Sofia, no século VI. Evoluiu até chegar a leveza dos vitrais das catedrais góticas – o ápice desta revolução na técnica construtiva em alvenaria de pedras. A casa de madeira já apresentava a sua estrutura independente das paredes 6.000 anos a.C. e que nunca deixou de ser construída.

Por Sérgio Antonello [Secom/BNU]