Treze dias dentro do 303 no Hospital Santa Isabel

 

 

 

 

Por Claus Jensen

Desde o dia 4 de janeiro, estou internado no Hospital Santa Isabel, depois de adquirir uma bactéria que causou a erisipela. A infecção atingiu minha perna esquerda, causando vermelhidão e bolhas.

Tive muita febre, cansaço, e cheguei a ter confusão mental, quando apesar de estar consciente, não conseguia verbalizar o que pensava. Foi a experiência mais estranha da minha vida. Me informaram que havia pacientes na UTI por causa da erisipela. A bactéria não é fraca!

Sou uma pessoa muito inquieta e sempre estou agitando alguma coisa. Por isso estar preso aos fios que levam soro continua um exercício de superação. Essa palavra faz parte e sempre fará da minha vida, já que também fui vítima de poliomielite aos 7 meses.

Muitas pessoas perguntaram por mim e agora escrevo esse texto com o objetivo de dizer que estou bem e tudo indica que deixarei essa unidade hospitalar no domingo (19/01/20). O texto será extenso, apesar de falar apenas 2% do que gostaria.

Os profissionais da enfermagem são os que mais surpreenderam, por lidarem com essa complexidade humana no momento em que estamos mais frágeis e expostos. Não importa o tempo de casa, todos foram incríveis exercendo sua profissão, da qual é necessário ter o dom. Percebi que 95% desses profissionais no Hospital Santa Isabel são de estados do sudeste, principalmente São Paulo, entre outros.

Como um curioso, o hospital foi um local para conhecer pessoas e histórias de vida incríveis. Algumas emocionantes, outras inspiradoras, provas de amor de casais, principalmente os mais idosos, que ainda fazem questão de cuidar um do outro aos 80 anos, inclusive passar a noite inteira sentada em uma poltrona desconfortável como acompanhantes. Quando ganhavam alta, havia aquele misto de felicidade por eles deixarem o ambiente hospitalar, que se misturava com o aperto no coração porque já parecíamos uma família. Escrevo esse texto emocionado pelas riquezas de vida que tive a oportunidade de conviver.

Uma pessoa inesquecível foi a Sra. Ivonete, que consegui a proeza de trocar o nome por Leocádia o tempo todo. Esposa do paciente (Sr. Mário) da cama ao lado, ela foi uma mãe solidária. Nossa maior surpresa foi descobrir que eram os pais de uma cliente nossa de Oblumenauense (Toque & Tempero). Nesses três anos conversamos poucas vezes pessoalmente com as proprietárias, o que foi bem compensado nesses 5 dias que convivemos juntos. Me emocionei quando trocaram de quarto, mas foi melhor para o Sr. Mário, que recebeu uma atenção maior na ala neurológica. Ele estava internado por causa de complicações da Síndrome de Chiari, uma condição congênita em que o tecido cerebral invade o canal espinhal.

 

 

SUS

Fomos clientes da Unimed durante 25 anos. Há seis meses ficou insuportável continuar pagando o plano, afinal estávamos usando muito pouco. Pensamos em guardar esse mesmo dinheiro, e quando precisarmos, podermos pagar a consulta ou procedimento. O Hospital Santa Isabel provou que podemos ter qualidade no atendimento, reflexo também de mudanças estruturais ainda controladas pela mesma equipe administrativa.

Quartos limpos todos os dias e quando necessário fosse, exames, medicamentos diários, equipe de estudantes de Medicina bem orientados pela Dra. Graziela Peluzzo Alba, clínica geral. As jovens aspirantes a médicas tratavam todos com um carinho, jamais titubeando perante a realidade crua e nua.

Agora vem o desafio de ser atendido pelos Postos de Saúde. Será uma experiência interessante usar melhor o serviço público e assim poder compartilhar ou denunciar aquilo que não depende só de verba para ser resolvido.

 

 

O PESO DO DIA A DIA

Quem já esteve internado durante semanas, sabe como cada dia é um a mais para ser vivido. Estamos acostumados a acordar e planejar tudo que virá pela frente. Depois do café, durante a manhã, após o almoço, tudo pensado para fluir com produtividade. Quando o tempo para, o que importa são os próximos 60 minutos.

Nos primeiros dias fiquei apavorado pela falta de atualizações em OBlumenauense, afinal sempre foram mais de 15 diariamente e com muita agilidade. Sob influência do medicamento, a falta das condições ideais de trabalho, tudo frustrava. Decidi que se conseguisse, tudo bem, se não, paciência. Melhor não escrever e me recuperar.

Sempre fui uma pessoa em atividade. Essa parada é um desafio de controle psicológico, … daqui a pouco é o banho, a refeição, gotas de tempo como o soro infinito pingando nas minhas veias. O banho e a evacuação eram momentos ruins pela limitação dos fios com medicação, além do medo de perder o acesso (veia por onde entra o medicamento intravenoso).

A equipe de terapia ocupacional se esforçou para ajudar a criar um jeito de apoiar o notebook, mas infelizmente minhas condições físicas não ajudaram a retomar o ritmo.

 

Marlise Cardoso Jensen e a amiga Suzete Greuel

 

VISITAS

A primeira foi de minha esposa (Marlise Cardoso Jensen), que também me levou ao hospital, sob protestos meus, afinal achei que seria algo breve e emergencial. Meu filho Nikolas, de 19 anos, também foi ver o pai dele pela primeira vez em um hospital. Decidi que a Marlise não precisava me acompanhar todas as noites, seria um desgaste físico muito grande. Fui um dos poucos que passaram pelo quarto nessa condição, todos tinham acompanhantes. Fiz a coisa certa, todos os dias ela estava lá para me estimular e incentivar nos momentos mais difíceis. Como estava gripada, foi sugerido usar uma máscara, portanto só vi ela com o rosto coberto. Deu tudo certo, até que uma acompanhante passou a noite gripada e eu não escapei.

 

 

Os primeiros amigos a me visitar foram os da Polícia Militar, com o próprio comandante. Que incrível surpresa, de pessoas que lidamos profissionalmente, estarem lá para naquele momento. Imaginem a cena de quatro policiais entrando no quarto. O que esse cara fez? Rsrs. Obrigado pelo carinho e fiquei muito feliz com a presença de vocês Tenente Coronel Jefferson Schmidt, tenentes Karla Medeiros e Nicolas Marques Vasconcelos, acompanhados do Sub-Tenente De Almeida. Este último fez uma oração que se encaixou com o único paciente que faleceu no meu quarto, o 303, um homem idoso que tentava seus últimos suspiros de ar. Descansou.

 

 

Sempre digo que o Jaime Batista da Silva é meu irmão nesse mundo digital. Me enganei e disse o nome do hospital errado, e mesmo assim, ele veio. Quando um amigo (não importa o quão famoso seja) faz questão de te ver, é uma prova incrível de uma amizade que dura mais de uma década.

 

 

A visita da competente jornalista Gisele Scopel (Ver Mais NDTV Record), uma amiga querida que nos aproximamos no ano passado, também me surpreendeu e deixou o jugo dessa espera em uma cama de hospital mais leve. Fãs dela aproveitaram para tirar fotos.

 

 

Meus queridos parceiros em Oblumenauense, evitaram deixar o site desatualizado. Destaco meu irmão digital João Paulo Taumaturgo que escreveu textos, gravou matérias, ajudou a trazer assuntos novos e autorais. A Fernanda Rosa (nossa outra maninha digital) gravou a abertura da Sommerfest e algumas imagens mostrando com seu jeito único a festa.

 

Gelson de Souza, sócio do Guia Fácil

 

Obrigado Gabriel Silva (assessor de imprensa do HSI), Luiz Carlos Zimmermann, Susana Bartira Wagner Bilck Venturi, João Paulo Taumaturgo, Zenilda Deschamps, Gelson de Souza, Suzete Greuel, pela visita. Também as irmãs Elfi e Mônica, o irmão Ivo e tia Olívia Hein (que já nos ajudou no site). Falando de família, obrigado querida sogra Neomésia e cunhado Salésio Cardoso, tia Robertina Waldrich e José Carlos Oeschler

Na hora em que estamos frágeis, a presença de pessoas próximas, que usaram seu precioso tempo para nos dedicar uma visita no hospital, tem um significado todo especial. Antes disso tudo acontecer, tinha uma visão mais fria sobre as visitas. É uma honra estar na memória / coração de alguém.

Talvez tenham passado erros de português, escrever sentado na cama de um hospital no celular um texto desses não foi fácil. Aliás, acabaram de me dar outra medicação. Agradeço a você que leu até o final do texto e quis saber minha situação de saúde.